Pediatra
HPA Magazine 17
Surge numa criança saudável entre os 6 meses e os 5 anos de idade (com pico aos 18 meses), durante a subida térmica num episódio febril. Muitas vezes, é a própria convulsão que permite detetar a febre, pois surge logo no primeiro dia.
É um episódio súbito de perda dos sentidos e contração mantida do corpo, seguida de movimentos síncronos repetitivos e amplos dos membros e olhar fixo. Após alguns minutos, os movimentos param, o corpo fica mole e termina. Segue-se um período de sonolência, após o qual a criança fica bem. Durante a crise os lábios podem ficar roxos, espumar pela boca ou urinar.
Não deve ser confundida com o tremor fino do calafrio da subida térmica, em que a criança continua a olhar para os pais, situação que é muito mais frequente.
Embora sem mecanismo bem definido, na sua origem estão fatores genéticos e imaturidade do sistema nervoso das crianças pequenas, que parece ser mais suscetível a temperaturas elevadas, situação que tende a desaparecer com a idade.
Conhecem-se alguns fatores que aumentam o risco de convulsão febril: história familiar de convulsão febril ou de epilepsia, ocorrência no primeiro ano de vida, com febre baixa ou menos de 1 hora depois do início da febre e se a duração for prolongada (mais de 5 minutos).
Num primeiro episódio de convulsão febril a criança deve ser observada no hospital. Por vezes, justifica-se o internamento por algumas horas para vigilância e tranquilização dos pais.
Mesmo se não for a primeira vez, deve ser observada para determinar se se trata de uma convulsão febril ou de uma convulsão com febre, secundária a uma doença grave como a meningite.
São sinais de alarme para doença grave:
• Convulsão prologada (mais de 15 minutos)
• Movimentos de um só lado, ou se só mexer apenas um lado após a crise
• Prostração, gemido ou sonolência, que se mantém 1 hora após a crise
• Febre que não baixa
• Várias crises no mesmo dia
• Não recuperação entre convulsões
Outros fatores que podem apontar para que uma convulsão com febre, não seja benigna, mas secundária a uma causa neurológica, metabólica ou infeciosa são: surgir com febre baixa (< 38ºC), abaixo dos 6 meses ou acima dos 5 anos, história de convulsões sem febre, atraso do desenvolvimento ou alterações neurológicas, presença de manchas ou alterações cutâneas.
Durante a convulsão os pais devem:
• Manter a calma e anotar as horas de início e fim
• Colocar a criança de lado, sobre uma superfície plana com algo mole sob cabeça
• Prevenir traumatismos, retirando objetos circundantes
• Não tentar imobilizar nem colocar nada na boca
• Retirar parte da roupa para promover o arrefecimento
• Se não for a primeira vez, caso dure mais que 3-5 minutos deve ser aplicado um clister de Diazepan
• Observar a criança para descrever a crise
• Baixar a temperatura com antipirético
O que posso fazer para prevenir?
Apesar do risco de recorrência, o uso de medicamentos antiepiléticos não está recomendado em crianças com convulsões febris. Também não está também provado que a utilização de medicamentos para a febre reduza a probabilidade de desenvolver convulsões febris.
Deve ser logo administrado um antipirético quando fizer temperatura subfebril (~~37,5ºC). O objetivo é aliviar o desconforto da febre e não a prevenção da convulsão febril.
Em regra, não. A maioria das crianças não precisa de fazer análises sanguíneas, nem punção lombar, nem eletroencefalograma, nem exames de imagem, nomeadamente, tomografia computorizada ou ressonância magnética.
A criança precisa sim, de ser observada por um médico de forma que este possa excluir infeções graves do sistema nervoso ou outras doenças como causa da febre. E é neste sentido que poderão ser solicitados alguns dos exames anteriormente referidos.
O meu filho voltará a ter convulsões febris? E quais as consequências futuras?
Cerca de um terço das crianças volta a ter uma ou mais crises com febre, mas é impossível prever quando ou quais. O risco é maior nos primeiros 6 a 12 meses após a primeira crise, se surgiu com febre baixa, no primeiro ano de vida e se há história familiar.
Desaparecem a partir dos 5-6 anos.
Em crianças previamente saudáveis, as convulsões febris não causam sequelas como danos cerebrais, paralisia cerebral ou défice intelectual. Também não existe risco aumentado de evolução para a epilepsia do que nas outras crianças, se não existir atraso de desenvolvimento psicomotor, alterações neurológicas, história familiar de epilepsia, início nos primeiros 6 meses de vida e presença de convulsões sem febre.
Em suma, na sua maioria são situações benignas, autolimitadas e relacionadas com a idade.